Por que 2020 promete ser um marco para o setor
O ano de 2020 tem tudo para se transformar em um marco para o setor de
bioenergia no País. Além das perspectivas de retomada do crescimento
econômico – e, portanto, do consumo de energia elétrica, que estava
estagnado nos últimos três anos, uma mudança nas normas que regulamentam a comercialização, em discussão no Ministério de Minas e Energia e no Congresso Nacional, pode abrir uma janela de oportunidades para novos investimentos na cogeração de energia a partir da biomassa, sobretudo de cana-de-açúcar.
As mudanças regulatórias na comercialização da energia devem introduzir uma nova modalidade de leilões no mercado, a de contratos de lastro de capacidade, que se somariam aos de produção de energia. O lastro de capacidade valorizará a garantia daquela fonte energética de atender o sistema em momentos de maior demanda. Com isso, além de ganharem com a venda da energia produzida, as usinas poderiam rentabilizar o negócio com a receita adicional de comercialização do lastro, já que, entre as diferentes fontes que compõem a matriz energética brasileira, a energia proveniente da biomassa oferece garantias de geração firme durante a safra.
“A bioeletricidade é bastante competitiva se as duas coisas andam juntas”,
afirma Daniel Marrocos Camposilvan, diretor da Newcom, empresa com forte presença na comercialização de energia no mercado brasileiro. Segundo ele, o desaquecimento da economia e concorrência com outras fontes – como a eólica e a fotovoltaica – fizeram com que investimentos no setor ficassem congelados. Mas a energia da biomassa manteve sua importância, funcionando como uma oferta firme de produção para o sistema, sobretudo nos momentos de estiagem, que afeta a capacidade de geração hídrica.
Com os debates avançando no governo e no Congresso, os sinais para os
próximos anos são de mudança nesse cenário. “Com um modelo de
comercialização mais favorável, deve voltar a haver demanda por novos
projetos de cogeração no setor sucroenergético”, prevê Marrocos. “E estamos preparados para sermos impulsores desses projetos e trabalharmos como canal de comercialização da energia produzida, sempre buscando maximizar a receita de venda de energia para as usinas”.
Criada há um ano para diversificar e incrementar as operações de trading de energia do grupo Comerc, a Newcom nasceu da união de um time formado por profissionais renomados no mercado de energia e do DNA empreendedor da Comerc, aliando conhecimento e capacidade financeira para estruturar produtos para comercialização de eletricidade. O grupo Comerc, com 18 anos, hoje atende a mais de mil clientes, com negócios que vão da comercialização de energia à formatação de soluções em eficiência energética, projetos fotovoltaicos e gestão de contratos para grandes consumidores. Cerca de 5% de toda a carga consumida no Brasil passa pela Comerc. Na geração de energia, a Comerc faz a gestão da comercialização da energia gerada em 63 usinas de biomassa, com capacidade instalada de 3.100 MW. Somando outras fontes de energia, são 5.100 MW instalados em 15 estados.
A cogeração de energia, para muitas usinas, funciona uma terceira linha de negócios, depois da produção de açúcar e etanol. Como tal, a receita obtida com ela é normalmente usada para geração de caixa, ajudando a manter a saúde financeira dos grupos e na expansão e melhoria de processos. Hoje estima-se que corresponda a 5% do resultado das usinas, mas essa proporção pode subir bastante em anos com cotações reprimidas nos mercados de açúcar e etanol.
Segundo dados da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), a atual
geração de energia elétrica pelas usinas corresponde a apenas 15% do
potencial do setor sucroenergético nessa área. Outro aspecto positivo no
cenário é a entrada em vigor do programa de incentivo aos biocombustíveis RenovaBio, que deve estimular os investimentos nas usinas.